A minha madrinha, tia Carminha, morava numa chácara em Brotas, no Matatu. Um lugar maravilhoso. Olorum, como eu amei esse lugar. Dirigi muito o grande volante de um fusca bege abandonado cheio de teias de aranha. Numa varanda imensa, eu voava voava voava fazendo da rede um balanço. Embaixo da rede, uma renca de cachorros vira-latas dormia. Comi muita manga verde com sal e uma flor azedinha que não lembro o nome. Carreguei, abracei e beijei os patinhos que moravam lá. Assisti, sem ninguém perceber, a primeira sessão de umbanda da minha vida. Mas... a família criava um teiú.
Sobreviver a infância é a nossa primeira tarefa. Nesse tempo, se acreditava que comer fruta quente fazia mal, e eu catava muitas pitangas e era obrigada a deixar na geladeira até esfriar. E assim administrava o terror de abrir de um em minuto a geladeira para ver se as pitangas estavam frias, correndo o risco do teiú sair de debaixo dela. O que muitas vezes acontecia. Também não posso esquecer da sua língua cor de rosa, comprida e bífida devorando ovos com casca e tudo.
foto: Katia Regina Borges
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