25 abril, 2018

Passei a infância vendo minha mãe costurando à maquina. Coisa linda de se ver. A base de ferro, o gabinete de madeira com as gavetinhas para linhas, dedal e mistérios. 
Os pés sobre o pedal, o direito acima do esquerdo, se movendo para cima e para baixo. Transformando energia. Eu admirava os músculos da perna marcando o andamento do compasso. 
Marília chegou já na época do motor e batizou de Perigásio a almofada onde ficavam as agulhas e alfinetes. Veio Beatriz e mal aprendeu a falar, pedia: Dedo, dedo...para tia Mari colocar em cada dedinho da mão um tubo de linha vazio.
Eu e Marília não aprendemos nada de costura, muito menos Maurício. Fico feliz de ver Beatriz aprendendo a costurar. Outro dia cheguei em casa e ela estava com alfinetes nos lábios, como fazia a sua avó. 
No tempo em que eu e Maurício brigávamos feito cão e gato, minha mãe ia variando as estratégias de apaziguamento: conversa, castigo, ameaça, grito... até que apelou para uma estudada indiferença. Uma vez, na regência do "não estou aqui", enquanto ela costurava em sua máquina, começou uma briga entre eu e meu irmão. No primeiro round eu bati nele, mas ele virou o jogo e me imobilizou no chão. Eu gritava: mããããe.... e ela nem tchum, só pedalando e cosendo beleza.
A música da máquina de costura de Mâmilis sempre vai embalar meus vestidos.

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