Minha lembrança mais remota: eu, muito pequena, e a mãe de um coleguinha na escola contando história. As cadeiras pequeninas, azuis? O pátio grande, vermelho, a mãe do menino contava a história do homem que roubava crianças e as colocava dentro de um saco. Eu nem respirava de fascínio e terror.
Na praia de Ondina, uma mulher me ensinou a mergulhar sem fechar com a mão as narinas. Respirar forte expelindo o ar pelo nariz, expirar, expirar enquanto o rosto rompe a barra da água, e enfim, inspirar de novo.
Em Ubaíra, conheci o Chupa-imbigo, era um velho mau, se pegasse uma criança desprevenida, chupava todo o seu sangue pelo umbigo. Às seis horas da tarde, a Ave Maria soava triste no alto-falante da igreja, e como ouvidos não se fecham com as mãos, éramos obrigados a escutar toda a canção que ecoava na pequenina cidade incrustada no vale.
Para mim, era a hora mais perigosa dele aparecer. No lusco-fusco da Ave Maria, sob a sonoplastia das cigarras. Às vezes eu estava forte, outras vezes, voltava correndo e ofegante para casa de meu avô.
Na praia de Ondina, uma mulher me ensinou a mergulhar sem fechar com a mão as narinas. Respirar forte expelindo o ar pelo nariz, expirar, expirar enquanto o rosto rompe a barra da água, e enfim, inspirar de novo.
Em Ubaíra, conheci o Chupa-imbigo, era um velho mau, se pegasse uma criança desprevenida, chupava todo o seu sangue pelo umbigo. Às seis horas da tarde, a Ave Maria soava triste no alto-falante da igreja, e como ouvidos não se fecham com as mãos, éramos obrigados a escutar toda a canção que ecoava na pequenina cidade incrustada no vale.
Para mim, era a hora mais perigosa dele aparecer. No lusco-fusco da Ave Maria, sob a sonoplastia das cigarras. Às vezes eu estava forte, outras vezes, voltava correndo e ofegante para casa de meu avô.
M.
18 comentários:
Um texto sinfõnco e que delicia.Parabéns, e :Onde posso encontrar a Antologia Portico 3?
Um abraço
Que delícia de texto! Sempre tive um certo encanto por esses "monstros" inventados e seu texto me lembrou dos meus.
Bjs
gosto muito de suas lembranças e da forma como as descreve.
que bom que vc tambem teve seu chupa-imbigo de infancia!
Queremos mais!
Me fez lembrar dos fins de tarde em Brumado. Aquele céu que só no sertão. Belo texto!
Vim, gostei - muito!
Lá, na infância, todos os medos são tão imensos. Tudo para que depois possa ser contado, com essa graça e encanto, sobre uma sensação que agora é especial, é memória, é uma parte do que se foi.
Moraes, esses dias, descobriu Adelia Prado no banheiro entre os livros que ficam por ali também. Ficou encantado e me chamou pra ouví-lo ler um poema. Eu do lado de fora, ouvindo. Terminou e eu disse: "foi Martha que me apresentou Adelia!"
Sempre que leio uma, vejo a outra, não tem jeito.
Beijo.
Gostei muio deste texto da sua menina lembrando... interessante como criança vê cores, sente cheiro e e toda sentimento, né não?
Minha mais remota lembrança
Dos tempo de criança
Também tem história
Entre os vai-e-vem da memória
Perpétua dança
Um roda da infância
Tempo de glórias
Quandoa té sacodir a pança
Tinha sabor de vitória...
Medos na infância... tive tantos. Adorei relembrá-los aqui.
Poxa, amei esse texto. Como a infância da gente é mágica, com anjos e monstros... Lindo!
As vezes eu estava forte
e comentava, outra corria
do seu texto, cúmplice.
Será q ela sabe o quanto
sinto o seu sentimento?
amo.
chupo-umbigo é bom demais, rs*
beijos, querida
MM.
>>>> ô saudade de Salvador
Oh, Marta, que lindo! Beijos
Marta, seu texto é puro lirismo.
Que belo texto, Martha! Minha visita aqui hoje foi bastante proveitosa. :-)
Fascínio e terror é a minha turbulência favorita.
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