Desamparo
Desamparo sou eu e meu pai caminhando de chinelos pelo pátio do edifício. Abraçados. Se você parar de sofrer eu lhe dou uma bicicleta, ele dizia.
Eu queria muito uma bicicleta, mas parar de sofrer eu não conseguia.
Há tanta gente pior do que nós, minha filha. Esta era a frase de misericórdia, a que feria mortalmente meu coração. Sofria ainda mais me lembrando dos que sofriam mais que eu.
Martha
12 comentários:
Ah, Martha, falou em pai é comigo. Eu sempre tenho uma história, uma frase, sempre tenho meu pai em mim.
Quando vc escreve sobre o seu, eu entendo tanto.
Pai e mãe. Saudades. Lembranças. Memória. Tudo
Martha,
lindo. há dias em que a gente lê coisas assim e entende de pronto. simultaneidade com o sentimento da palavra.
um beijo
Desamparo é o sentimento que mais me toca. Lindo o texto.
Tem gente lá no blog, Martha, perguntando se você tem livro publicado.
Sonho com meu pai quase toda noite. Quanto aos que sofrem mais que eu, desde criança penso neles, mas continuei sofrendo só por mim. Isso me torna um homem egoísta?
É impossível esquecer o primeiro homem de nossas vidas, não é mesmo?
Pai está sempre em torno de nós, vira e mexe o lembramos.
Beijos
Olá.
Mas quem está realmente amparado?
Se formos lembrar com sinceridade, na verdade nunca estivemos amparados de nada - a não ser pela benevolência dos nossos guardiões, sejam santos, anjos, orixás, ou o que forem.
Obrigada.
Marthinha, é mesmo. O sofrimento vem tudo junto.
Um beijo querida.
Ih, isso dói, mesmo. Mas tem essa: a dor é única, só nossa, mesmo que doa tb a gente saber que os outros tb sofrem.
Ah, não dá para medir a dor: cada um tem a sua, particularíssima, e sempre grande, terrível! Seu texto, tão forte, passa isso.
Absolutamente lindo!
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