15 agosto, 2008

Pedras portuguesas, com certeza!

"Vamos começar nosso arrazoado por uma consideração básica. Uma paisagem urbana que alcança reconhecimento de sua beleza e de sua significatividade, não apenas no âmbito local, mas ainda além, conferindo a um sítio amplo prestígio, integra o patrimônio de um povo; deve ser protegida, jamais adulterada pelos seus governantes. (...)"
Ordep Serra

Leia aqui os pareceres de Ana Fernandes e Ordep Serra solicitados pelo Ministério Público.

Foto: Fernando Vivas













Calçadão da Barra

Cheguei da Europa e soube, aqui, do crime que o prefeito de Salvador está cometendo no Porto da Barra. Não posso ficar calado. É uma indecência manter as pessoas desinformadas a ponto de entrarem na guerra suicida à calçada portuguesa. O calçamento português é marca importante da nossa vida física e espiritual. Os incômodos que porventura venham de sua má conservação não são motivo para destruí-lo. Em São Luís (atualmente a cidade mais bonita do Brasil), as antigas calçadas portuguesas foram restauradas com o esmero técnico adequado e não provocam trepidação em carrinhos de bebê nem engolem saltos de madames. E são vastas e extensas áreas da cidade que as ostentam. As praças de Lisboa apresentam a mesma firmeza e a mesma elegância. Por que há tantos baianos votando a favor desse descalabro? Será que voltamos ao mau gosto vulgar que dominava antes de Jaime Lerner recuperar o Largo da Ordem em Curitiba? Regredimos para visão grosseira que teria deixado o Pelourinho, em Salvador, e o Largo da Lapa, no Rio, virarem pó e serem substituídos pelo caos dos restos da arquitetura moderna que enfeiam o Brasil? São restos culturais de baixa qualidade que se oferece aos grupos emergentes da sociedade, em nome da democracia. Não creio que seja um caso para votações inspiradas nesse tipo degradado de democracia. É caso para ouvirem-se os especialistas, respeitarem-se os locais históricos e míticos, esboçar-se uma reestruturação inteligente da cidade. Se isso não agrada de imediato a uma (suposta) maioria desavisada, não importa. O essencial está num texto escrito por Ordep Serra: um texto excelente sob todos os pontos de vista. Então, um lugar como o Porto da Barra pode ser violado assim? Não. Protesto veementemente. Não se pode adotar piso de concreto e granito polido na curva do Porto e tampouco a retirada das árvores. O que é que há com Salvador que o prefeito começou a construção de uma favela nas areias da orla e esse esboço continua lá, enquanto uma horda de desinformados apóia a destruição do Porto da Barra?

Caetano Veloso
Jornal A Tarde, 15 de agosto de 2008

9 comentários:

Anônimo disse...

Sinceramente, não acredito que o autor se importe com nada disso!!!!!!!!!!!

MARIAESCREVINHADORA disse...

Caetano está certo, certíssimo.
Beijos,

Conceição

José Calvino disse...

Concordo com Caetano. Aqui no Recife estavam trocando pedras portuguesas por lajotas de cimento.
Além de o mosaico de pedra portuguesa ser bonito, é um símbolo cultural das cidades citadas.
Beijos do,
José Calvino
Recife

LIRIS LETIERES disse...

Se por consciência ou oportunismo midiático(ver ataques de estrelatos) ou mesmo legado de sensibilidade ,como inegavelmente Caetano tem(ver músicas/letras). Há de se concordar com o cantor.
Bj querida Martha (em pé, na calçada de pedra portuguesa)

Ana Fernanda disse...

A carta de Caetano foi linda, lindíssima, inspiradora...

Marta, reconheço que, como jornalista, fui um pouco leviana ao colocar a citação de Márcio no blog - ele falou, com toda a clareza, que provavelmente uma eleição como aquela tem grandes chances de ter sido manipulada.

Mas não o acho prosa, não, muito pelo contrário.

Acho que há tempos não tínhamos alguém da qualidade dele pensando a cidade em um posto tão importante.

Bom, mas acho que não sou mais ingênua - Claro que há uma instrumentalização feroz da cultura, vide toda a polêmica do envolvendo o Pelourinho e bobagens do tipo.

Mas que eu me pergunto se não somos nós uma minoria nesta cidade, ah, isso eu penso mesmo!

Beijo, linda!!

Ana F.

Fernanda Leturiondo disse...

Martha, queria ler o parecer, mas aqui não consegui abrir, de jeito algum.

E então, a pedras serão arrancadas? Já foram? Isso foi decidido pela Internt, de verdade? Estou de longe tentando saber disso pra não me assustar tanto quando chegar aí.

A gente perde a cidade que tem, em geral pra ganhar uma pior... Triste.

bjo

Paulo D'Auria disse...

Parece-me então que a guerra contra o calçamento português é nacional, mais um símbolo do descaso e do desinteresse do brasileiro para com seus símbolos culturais.
Em São Paulo, o prefeito G. Kassab substituiu o calçamento português da Avenida Paulista por blocos de concreto... Lamentável!
Os políticos sempre optam pelo mais ordinário e barato. O triste é que a população não se mobilize contra este estado de coisas.

Anônimo disse...

MARTINHA! EU NÃO SABIA DISSO!!!

NÃO ESTOU ACREDITANDO!!!

DEFINITIVAMENTE ISSO VAI ALIMENTAR MUITO A MINHA TRISTEZA...

Mônica ( Rainha Mab )

Anônimo disse...

Francamente,muitos lugares de Salvador possuem essas pedras portuguesas...Não vão estar apagando a identidade cultural soteropolitana se as removerem da calçada da Barra. Já tive péssimas experiências ao andar na Barra (moro na Barra há muitos anos), tropecei inúmeras vezes devido às pedras soltas,aos buracos que se formam,dentre outros problemas das pedras portuguesas. Este tipo de calçamento necessita de manutenção,o que não ocorre!
O calçadão da orla é 365 dias no ano utilizado pelos moradores para caminhadas;há também os ambulantes,bicicletas,e o pior de todos os agentes erosivos: o carnaval.
Há de convir que, antes da função de atração turística, Salvador precisa ser agradável aos seus habitantes.

A Chuva de Maria

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Muadiê Maria

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