16 maio, 2007

Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.


Hilda Hilst

Trecho Da Morte. Odes Mínimas.

6 comentários:

Raiça Bomfim disse...

Essa mulher me devassa.

Deixei um desafio lá pra vôcê, Martha: http://raibomfim.blogspot.com/

inominável disse...

aflição de ler estas palavras e elas falarem de mim... e sentir que não é preciso consultar outras videntes...

Anônimo disse...

Ontem, vi uma foto da Hilda, bem jovem, tão linda..."Uma das mulheres mais lindas da sua geração" é o que dizia a legenda... beijos

Anônimo disse...

Intrigante e belo. bj Laura

MARIAESCREVINHADORA disse...

Ótima escolha, Martha.
Lindo demais: "E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela"...
Beijo,

Conceição

Anônimo disse...

Profundamente feminina, sente como só mulher pode sentir o conflito íntimo que o homem não consegue entender.

A Chuva de Maria

A Chuva de Maria

Muadiê Maria

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