07 abril, 2007

As escadas medievais, sem balaústres e sem patamares


As escadas medievais, sem balaústres e sem patamares,
convidam-me e afligem-me.

As colunas derrocadas que o mar vai acabando de tornear
vão sendo torneadas também por meus olhos.

Há os vestíbulos sem palácios, que as estátuas gravemente
guardam - decapitadas.

Há os anjos sem asas e as madonas sem mãos,
e a sandália sem dança.

E há o alaúde sem os dedos, o nome sem a pessoa,
o canto sem voz e muito mais lágrimas que os olhos.

Há o aceno de séculos no ar que apenas se abre
e logo se recompõe.

Daqui a cem anos, a cem dias, a cem horas,
menos de cem instantes tudo é sem o mesmo dono,
o mesmo destino.

Cecília Meireles

8 comentários:

Anônimo disse...

Como eu poderia estar de mal com você, minha querida?
Aproveito para te desejar uma feliz Páscoa. Pra você e os seus.
Um beijo afetuoso.

A Autora disse...

Lindo e triste.....sem destino...como todos nós.....que somos busca.....na poesia de Cecília e de outros tantos deuses...achamos pouso vez ou outra para nossa alma cansada...beijos achocolatados querida
Carol Montone

Anônimo disse...

é LINDO E TRISTE E DÁ SENSAÇÃO DE DESAMPARO.
BJ QUERIDA, LAURA
Desculpe vai assim mesmo com caps lock, meu filho usou...

Anônimo disse...

Arrepiante, Martha, o poema e a foto!

Coisa complicada falar de morte... eu, pessoalmente, não sei o que sinto, se tenho medo ou se não me preocupo...

A nossa existência é muito complicada, mesmo...

Anônimo disse...

Juro que eu também tenho medo da morte, da inconsciência final (injusta?).
Não deveria ser assim!
Clóvis Campêlo

Anônimo disse...

Que beleza, Martha.
Fiquei emocionado.

Anônimo disse...

Querido Mauro, apreciei por demais a foto representativa das escadas de Cecília... É bem ilustrattiva de nossa provisoriedade.
Certa noite/madrugada de minhas famosas insônias, fiquei a apreciar as mariposas circunscrevendo fótons de luz para me fazer companhia. Tanto quanto Manoel Barros, sou fascinada pelas coisas simples, consideradas inúteis. Fiz estes pobres versos. Segue.
Mary


As Mariposas

No breu da noite,
o silêncio fala, fala alto.
Grita gritos de solitude
que fazem coro com
as mariposas mudas
Dançarinas cintilantes,
com brilho emprestado
do poste de luz,
bailam indiferentes
aos mistérios e perigos.

Companheiras discretas,
as mariposas dispensam
atenção com discrição.
Sem intenção, desatam
confidências incolores
ao paladar das
ordens incontidas
contidas na intimidade.

Solícitas mariposas
estão lá, ali
e nós, quase cá, quase aqui
nos limites do possível.

Verônica Aroucha disse...

Que sonhos passeiam pela mente tão cansada dos nossos idosos?
Talvez sonhem com um grande reencontro e libertação.
bjs

A Chuva de Maria

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Muadiê Maria

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