O MATADOURO
Os animais estão morrendo
desde ontem: morrem na cozinha,
na sala, no campo — onde estão,
por falta de imaginação.
A gata, junto ao fogareiro,
é minha irmã que não casou.
Perto do fogo desde a infância
terrível, seus olhos me acusam.
O cão, que dá voltas na sala,
é meu irmão que enlouqueceu
entre as estantes: o menino
que só viu o mar uma vez.
O cavalo, que morde há tempo
a mesma touceira, é meu pai:
que alugou todas as choupanas
de taipa, e não saiu daqui.
Os animais estão morrendo
na cozinha, na luz do campo:
todos penetraram aos gritos
e berros, neste matadouro.
Alberto da Cunha Melo
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