04 setembro, 2021

 O MATADOURO


Os animais estão morrendo

desde ontem: morrem na cozinha,

na sala, no campo — onde estão,

por falta de imaginação.


A gata, junto ao fogareiro,

é minha irmã que não casou.

Perto do fogo desde a infância

terrível, seus olhos me acusam.


O cão, que dá voltas na sala,

é meu irmão que enlouqueceu

entre as estantes: o menino

que só viu o mar uma vez.


O cavalo, que morde há tempo

a mesma touceira, é meu pai:

que alugou todas as choupanas

de taipa, e não saiu daqui.


Os animais estão morrendo

na cozinha, na luz do campo:

todos penetraram aos gritos

e berros, neste matadouro.


Alberto da Cunha Melo

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