10 outubro, 2010


Ontem, entre o IML, o velório e a gaveta de cimento onde emparedamos nossos mortos, eu ouvi a frase: o homem é gregário.
Talvez por isso, acordei hoje com os olhos inchados de chorar por Zé e com essa cicatriz indelével no pescoço. Bem em cima da jugular onde ele recebeu uma facada certeira.
Acordei com os olhos inchados de chorar por José, por mim, por Olinda, por Flávia, por Paula, por Carlos, por Roberto, por Leo, por Leir, por minha mãe, e por minha avó e meu tio Manu, mortos há tanto tempo que vieram chorar ao nosso lado ontem.
Amanheci míope, assim como José Fernando que foi acordado e arrancado de sua cama às pressas, às cegas, sem puder pegar seus óculos que permanecem inúteis na mesinha. Amarraram suas mãos e agora elas estão livres. Mas as mãos dos que ainda estão vivos e o amam, como eu, continuarão amarradas nessa corda.


M.

7 comentários:

aeronauta disse...

Que coisa forte e dolorosa, Martha. Seu texto nos traz a dor, sem cura.

M. disse...

Sim, "a dor sem cura". O homem é inseparável dessa dor. Meu mais carinhoso abraço, Martha.

Gerana Damulakis disse...

Q momentos dolorosos. Sinta um abraço, M.

Edu O. disse...

Meu abraço silencioso, Martha.

Lidi disse...

Outro abraço, Martha.

Giselly Lima disse...

Muito triste. Um beijo.

Anônimo disse...

Sem palavras.
Marcus Gusmão.

A Chuva de Maria

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Muadiê Maria

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