Foto: Arlete
Num verão qualquer na década de 70, ele levou a mulher e os dois filhos para passar as férias em Ubaíra. Nunca mais voltou.
Nunca mais foi buscá-los.
Nunca mais.
A mulher viveu até o fim como viúva de marido vivo.
A filha viveu com a dor da incompreensão do abandono.
Do filho eu não sei.
Meus primos. Passaram a morar na beira do rio, na casa dos avós.
Na avó, irmã da minha, eu procurava doçura e não achava. Aquele corpo tão magro, ossudo, aqueles cabelos pintados de um preto mais preto que as asas da graúna, aquela boca que mal sorria.
O avô, mais manso, Neném, morreu na rua, só pra confirmar o abandono, só pra ser achado caído no meio-fio, morto, e fazer minha prima sofrer tanto de novo. Antes que levassem para o velório o corpo, ela colocou um travesseiro embaixo de sua cabeça para aliviar o desamparo.
Desde que eu sei que existo, eu tenho muito medo que as pessoas sumam. Porque essa história, e outros acontecimentos, me deixaram essa marca. As pessoas somem. Para nunca.
Martha
6 comentários:
Uma lágrimou engasgou na minha garganta. Muito forte e triste!
Não há como aceitarmos que as pessoas desaparecem. É também uma angústia para mim.
Angústia total menina. Não suma de nós, pelamordedeus.
Lindo, Martha. Passa por dentro da gente.
Triste.
Muito triste.
Tristérrimo!
O abandono, a perda, nos dilaceram!
Beijo
Forte, pungente, verdadeiro. Diz o que sabemos e não sabemos sobre o abandono.
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