27 julho, 2009

Onde está Wally?

Em 2000, Haroldo fez uma foto da cachoeira do Candengo para a Fieb. Foi uma manhã divertida, eu, Haroldo, meu pai, Bia, Marília e Priscila. Só depois que a revista foi impressa é que foi percebida a presença de meu pai lá em cima no canto direito. Haroldo apelidou a foto de "onde está Wally?". Meu pai achou engraçado e distribuiu exemplares por toda Valença.






















Dia 20 de junho de 2009 fui à Valença. Meu pai não estava lá. Tentei muito não escrever sobre isso, mas desde esse dia não consigo escrever nada. Sumi, diminuí dentro de mim mesma. Dia 20 de junho fui à Valença e meu pai não estava lá. A cidade toda fingia não perceber, as lojas do calçadão abriram, havia bandeirolas de São João, as bicicletas, como sempre, dominavam os carros nas ruas e o rio continuava imundo. Mas meu pai não estava lá. Tudo parecia igual mas eu sabia que tudo está irremediavelmente diferente.
Tentei continuar, mas decresci, reduzi, enfraqueci, me perdi.

Não sou forte, não sou determinada, não sei o que quero, não escrevi duas monografias, não pari todos os filhos que engravidei, não saio do lugar, não arrumo a casa, não me organizo, não tenho disciplina, não consigo vencer os pulgões do quintal, ando em círculos, círculos, círculos, não publiquei meu livro.

13 comentários:

Unknown disse...

saudade

Gerana Damulakis disse...

Eu sei bem o que é isso: "meu pai não estava lá". O meu também agora só está no meu coração e eu não acredito ainda que só o encontro em mim.

aeronauta disse...

Ah, Marta, sua dor é nossa. A foto linda que seu pai aparece lá em cima, é nossa também. E a ausência, profunda, insistente que só a escrita preenche... Sua escrita, visceral e forte. Fiquei sinceramente tocada.

Clóvis Campêlo disse...

Não existem fórmulas definitivas para a vida, baiana. Como diria Don, esqueça o pulgões. Nós não devemos ser responsáveis pela organização do mundo, embora muitas vezes nos sintamos responsáveis. Tudo tem a sua lógica própria.

RAINHA MAB disse...

Ôxi! Bem vinda ao clube! Só que a minha listinha é mais comprida!

Marthinha, não se cobre tanto, querida! Lembre-se: não sairemos vivos dessa.

Nilson disse...

Martha, sua poesia é mais forte. Sintonizar com ela: acho que é esse o caminho. Entendo muito essa dilaceração da volta pra casa. Não faz mesmo muito bem quando pega de jeito. Mas não tenha dúvida: estamos contigo!

Janaina Amado disse...

Que linda foto, a do pai gerando a cachoeira! Nesta cachoeira gerada pelo pai, vejo Martha, que agora diz "não", mas que já disse os tantos "sim" que o pai lhe ensinou vida afora: sim, sou forte, sim, sou determinada, sim, sei o que quero, sim sim sim...
Beijo!

M. disse...

Oh, Martha, eu me identifico tanto com tudo o que você escreve. Beijos meus no seu coração. M.

Senhorita B. disse...

Este texto me fez chorar. Sua angústia me tocou de forma muito profunda.
Um beijo para vc, amiga querida.

Bernardo Guimarães disse...

marta:
toda vez que vc escreve sobre seu pai, fico assim...
agora que estou trabalhando em valença e fico aqui o dia todo, tenho a minha dor de lembrar de meu irmão assassinado nesta cidade. estamos unidos na dor da saudade...

Ana Cecília S. Bastos disse...

querida Marta,

tudo o que os amigos disseram e mais minha comoção - estou aqui chorando ao ler seu texto.
Sem palavras.

Anônimo disse...

Amiga, queria tanto ter o poder de te convencer do contrário, te emprestar minha fé. Calo-me, contudo, emocionado, na esperança de que meu respeito alivie um pouco tua dor.

Mani disse...

Querida, eu ia dizer um clichê, e desisti. Segue meu abraço...beijos..

A Chuva de Maria

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Muadiê Maria

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