04 junho, 2007

Foto: Haroldo Abrantes

Às vezes, quando eram pequenos, a mãe os levava para ver a noite na estação seca. Dizia-lhes para olharem bem o céu, azul como se fosse pleno dia, aquela claridade da terra até o limite da vista. Para ouvirem também os ruídos da noite, os chamados das pessoas, seus risos, seus cantos, os lamentos dos cães também, mal-assombrados pela morte, todos aqueles apelos que representavam ao mesmo tempo o inferno da solidão e a beleza dos cantos que representavam esta solidão: era preciso também escutá-los. Que o que se costumava esconder das crianças, ao contrário, era preciso dizer-lhes, o trabalho, as guerras, as separações, a injustiça, a solidão, a morte. Sim, esse lado da vida, ao mesmo tempo infernal e irremediável, era preciso também mostrá-lo às crianças, era como olhar o céu, a beleza das noites do mundo. As crianças frequentemente pediam à mãe que explicasse o que entendia por aquilo. A mãe sempre respon-dera que não sabia, que ninguém sabia. E que também isso era preciso saber. Saber, antes de tudo, isto: que não sabemos nada. Que mesmo as mães que diziam aos seus filhos que sabiam tudo, não sabiam.

Marguerite Duras - O Amante da China do Norte

10 comentários:

Raiça Bomfim disse...

Ah, leva esse lá pro sarau da uqt! Vi seu e-mail e fiquei super feliz que você tá sabendo do sarau e vai. Infelizmente, dessa vez não poderei participar porque estarei em cartaz, mas acho aquele encontro uma lindeza e sei que você vai adorar (ou já conhecia?). Leva esse pra lá!

Beijos.

A Autora disse...

É querida...esse é um dilema ....porque o mundo escancara as coisas todas uma hora ou outra.......como mãe sempre padeço de dúvidas quanto ao que mostrar e porque...bonito texto..b.eijos grandes Carol Montone

. fina flor . disse...

Que bonito!!!!! Mãe corajosa, essa..... rs*

beijos, linda e boa semana

MM

MARIAESCREVINHADORA disse...

Esse é o grande dilema de toda mãe, saber quando e como dizer a verdade aos filhos. A verdade feia, cruel, sangrenta que acontece todo dia, toda hora. Como a galinha que abriga o pintinho debaixo das asas, a mãe também deseja esconder de seu menino o horror do mundo...
Lindo texto, Martha.
Beijo,

Conceição

Anônimo disse...

Deu vontade de reler Marguerite Duras...

Anônimo disse...

Menina, eu adorei.
Não li este livro.
quero ler. bjs e tks

Anônimo disse...

eu de novo.
é o mesmo " o amante"? este eu li e adorei.

Tiago disse...

Belas palavras da Marguerite, as crianças tem uma visão lírica e mordaz da vida, pena que temos que crescer.

Beijos.

Jane Malaquias disse...

Minha mãe dizia que se soubesse que ser mãe era isso teria matado todos na hora em que nasceram.
Eu entendi a mensagem.

Anônimo disse...

Ufa!
Sem mais...

A Chuva de Maria

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