Foto: Haroldo Abrantes
Às vezes, quando eram pequenos, a mãe os levava para ver a noite na estação seca. Dizia-lhes para olharem bem o céu, azul como se fosse pleno dia, aquela claridade da terra até o limite da vista. Para ouvirem também os ruídos da noite, os chamados das pessoas, seus risos, seus cantos, os lamentos dos cães também, mal-assombrados pela morte, todos aqueles apelos que representavam ao mesmo tempo o inferno da solidão e a beleza dos cantos que representavam esta solidão: era preciso também escutá-los. Que o que se costumava esconder das crianças, ao contrário, era preciso dizer-lhes, o trabalho, as guerras, as separações, a injustiça, a solidão, a morte. Sim, esse lado da vida, ao mesmo tempo infernal e irremediável, era preciso também mostrá-lo às crianças, era como olhar o céu, a beleza das noites do mundo. As crianças frequentemente pediam à mãe que explicasse o que entendia por aquilo. A mãe sempre respon-dera que não sabia, que ninguém sabia. E que também isso era preciso saber. Saber, antes de tudo, isto: que não sabemos nada. Que mesmo as mães que diziam aos seus filhos que sabiam tudo, não sabiam.
Marguerite Duras - O Amante da China do Norte
Às vezes, quando eram pequenos, a mãe os levava para ver a noite na estação seca. Dizia-lhes para olharem bem o céu, azul como se fosse pleno dia, aquela claridade da terra até o limite da vista. Para ouvirem também os ruídos da noite, os chamados das pessoas, seus risos, seus cantos, os lamentos dos cães também, mal-assombrados pela morte, todos aqueles apelos que representavam ao mesmo tempo o inferno da solidão e a beleza dos cantos que representavam esta solidão: era preciso também escutá-los. Que o que se costumava esconder das crianças, ao contrário, era preciso dizer-lhes, o trabalho, as guerras, as separações, a injustiça, a solidão, a morte. Sim, esse lado da vida, ao mesmo tempo infernal e irremediável, era preciso também mostrá-lo às crianças, era como olhar o céu, a beleza das noites do mundo. As crianças frequentemente pediam à mãe que explicasse o que entendia por aquilo. A mãe sempre respon-dera que não sabia, que ninguém sabia. E que também isso era preciso saber. Saber, antes de tudo, isto: que não sabemos nada. Que mesmo as mães que diziam aos seus filhos que sabiam tudo, não sabiam.
Marguerite Duras - O Amante da China do Norte
10 comentários:
Ah, leva esse lá pro sarau da uqt! Vi seu e-mail e fiquei super feliz que você tá sabendo do sarau e vai. Infelizmente, dessa vez não poderei participar porque estarei em cartaz, mas acho aquele encontro uma lindeza e sei que você vai adorar (ou já conhecia?). Leva esse pra lá!
Beijos.
É querida...esse é um dilema ....porque o mundo escancara as coisas todas uma hora ou outra.......como mãe sempre padeço de dúvidas quanto ao que mostrar e porque...bonito texto..b.eijos grandes Carol Montone
Que bonito!!!!! Mãe corajosa, essa..... rs*
beijos, linda e boa semana
MM
Esse é o grande dilema de toda mãe, saber quando e como dizer a verdade aos filhos. A verdade feia, cruel, sangrenta que acontece todo dia, toda hora. Como a galinha que abriga o pintinho debaixo das asas, a mãe também deseja esconder de seu menino o horror do mundo...
Lindo texto, Martha.
Beijo,
Conceição
Deu vontade de reler Marguerite Duras...
Menina, eu adorei.
Não li este livro.
quero ler. bjs e tks
eu de novo.
é o mesmo " o amante"? este eu li e adorei.
Belas palavras da Marguerite, as crianças tem uma visão lírica e mordaz da vida, pena que temos que crescer.
Beijos.
Minha mãe dizia que se soubesse que ser mãe era isso teria matado todos na hora em que nasceram.
Eu entendi a mensagem.
Ufa!
Sem mais...
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