24 julho, 2020




Minha lembrança mais remota: eu, muito pequena, e a mãe de um coleguinha na escola contando história. As cadeiras pequeninas, azuis? O pátio grande, vermelho, a mãe do menino contava a história do homem que roubava crianças e as colocava dentro de um saco. Eu nem respirava de fascínio e terror.

Na praia de Ondina, uma mulher me ensinou a mergulhar sem fechar com a mão as narinas. Respirar forte expelindo o ar pelo nariz, expirar, expirar enquanto o rosto rompe a barra da água, e enfim, inspirar de novo.

Em Ubaíra, conheci o Chupa-imbigo, era um velho mau, se pegasse uma criança desprevenida, chupava todo o seu sangue pelo umbigo. Às seis horas da tarde, a Ave Maria soava triste no alto-falante da igreja, e como ouvidos não se fecham com as mãos, éramos obrigados a escutar toda a canção que ecoava na pequenina cidade incrustada no vale.
Para mim, era a hora mais perigosa dele aparecer. No lusco-fusco da Ave Maria, sob a sonoplastia das cigarras. Às vezes eu estava forte, outras vezes, voltava correndo e ofegante para casa de meu avô.
M.

Muadiê Maria, P55
foto: Haroldo Abrantes

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A Chuva de Maria

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