25 outubro, 2018

Para Leo Mir

Em solidariedade
Aos que se abstêm de beijar em público
Por medo de ser banidos
Insultados
Espancados
Assassinados
Decretaremos um dia sem beijos escancarados
Um dia sem abraços apertados
Nos aeroportos
Nos terminais rodoviários
Nas filas dos metrôs
Um dia inteiro sem encoxadas de adolescentes
Apaixonados nos pontos de ônibus
24 horas intermináveis sem carinhos públicos
Nenhuma expressão explícita de amor
Nos pátios das escolas
Nenhum chupão no pescoço
Na despedida da festa
Em frente ao prédio sob o olhar do porteiro
Nada de beijos rápidos e fortes
No amarelo do sinal
Sem EuTeAmos gritados
No meio da rua, nas praças, nos parques
Nenhum aperto de mãos nos leitos de hospitais
Abraços nos cinemas: interditados
Pelo prazo de um dia
Agarrar aquelas pernas no sofá da sala
Na presença de toda a família
Também está proibido pelo eterno, solitário
E frio tempo que perdurar esse decreto
Aos que se arriscarem
E forem flagrados
Em escândalos de beijos ou
Quaisquer das restrições acima
Igualmente serão banidos
Insultados
Espancados
Assassinados
Depois de encerrado o dia
Os hipócritas sentirão
Uma sede infinita de amor
E se houver sobreviventes
Beijar escondido
Estará restrito à máxima conquista
De crianças curiosas
E amantes incendiários
Nenhum amor será mais necessário
Somente máquinas, trabalho escravo
E a eterna espera pelo décimo terceiro salário

Assinará Souza

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