15 junho, 2017

Não te fies do tempo nem da eternidade
que as nuvens me puxam pelos vestidos,
que os ventos me arrastam contra o meu desejo.
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!

Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
ó lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te escuto!

Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te digo…

 Cecília Meireles 
livro “Retrato natural”. 1949.

2 comentários:

Manuel Luis disse...

Ficamos com o dia de hoje aproveitando o momento para te dar um abraço.

Muadiê Maria disse...

Aquele abraço!

A Chuva de Maria

A Chuva de Maria

Muadiê Maria

Muadiê Maria