17 março, 2017

Um dia o tempo escorreu manso lá na casa de meu pai e Emília. Um dia. E foi tão calmo e bom, que ele me iludiu. Parecia que duraria para meu sempre. Mas o tempo, vocês sabem, é um senhor implacável que vem cobrar sua conta, faça chuva ou faça sol.
Levou meu pai.
Agora está levando Emília. Lentamente. Temporada de dor e despedida.
Não há como não sentir muita tristeza nessa separação esquisita, irreversível, desconhecida. E alegria e amor por tudo construído.
Em meu coração, lentamente caem as paredes da casa, é só poeira o meu quarto, a cama que eu dormia, o espelho que distorcia as imagens, os mais de dez relógios de meu pai já pararam de funcionar, as fotos desbotando nos portarretratos, os gatos fugindo do abrigo, o mato cobrindo o quintal, o tempo crescendo ao redor, ao redor, ao redor. 
Nunca mais em minha vida é tempo demais.

M.

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