13 outubro, 2015

SOBRE OUTROS LÁBIOS

Eu crescia para o verão
para a água
antiquíssima da cal
crescia violento e nu.

Podiam ver-me crescer
rente ao vento
podiam ver-me em flor,
exasperado e puro.

À beira do silêncio,
eu crescia para o ardor
calcinado dos cardos
e da sede.

Morre-se agora
entre contínuas chuvas,
os lábios só lembrados
de um verão sobre outros lábios.


Eugénio de Andrade

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