08 maio, 2014



Adorei parir.

Eu, fóbica, não senti medo. Só coragem e amor, me sentia índia, tribal, uma mulher qualquer que ia repetir um velho e incrível acontecimento. Eu iria fazer o que todas as mães do mundo fizeram. 
Eu sabia que era parte de uma cadeia mágica. E forte. E feminina. Me senti visceralmente ligada a todas as minhas ancestrais. Se minha avó Guiomar pariu meu pai, se minha bisavó pariu Mariazinha que pariu minha mãe Iray e minha mãe me pariu, ora, seria tudo simples. 

E foi. Na véspera, com barrigão de 9 meses fui ao supermercado com Haroldo.. Voltamos para casa de ônibus e eu arrumei as verduras agachada em frente a geladeira. Dormi sentindo um pouco de dor na lombar, pensando que era do cansaço do dia, mas já era o processo do parto.
Quando acordei, o tampão do útero havia caído, e eu sentia uma cólica leve. Liguei para o obstetra, contei contrações, deitei sobre o lado esquerdo. Por incrível que pareça, adormeci, cochilei. Havíamos combinado de nos encontrar no hospital às duas horas.

Me atrasei, cheguei às duas e meia, e Carlos Eugênio, obstetra e gentleman, quando me viu entrar lépida e fagueira no saguão , me disse: É alarme falso. Que nada, me levou para fazer o exame de toque: Dilatação total, vai nascer agora.

Enquanto isso Haroldo esterilizava a máquina fotográfica. Enquanto isso as contrações cada vez mais fortes e com espaço de tempo menor. Chorei de dor. Mas sem aquela gritaria, aquele exagero de novela. Na hora de Bia nascer eu tomei uma analgesia, que eu achei muito bacana, não sentia mais as dores, mas não perdi a sensibilidade. Sentia minhas pernas, os músculos todos, a força que tinha que fazer( muito mais força que imaginava).....e senti quando minha filha saiu do meu corpo. FELICIDADE é isso: parir.

Beatriz, Beatriz, Beatriz tão linda, tão Beatriz, tão índia. 

Nós é índia, Beatriz.

M.

Um comentário:

Luciana Ramos disse...

Indias, lindas e guerreiras...

Queria um pouco dessa coragem.

A Chuva de Maria

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