21 janeiro, 2014


 Poeta da Bahia 

Dizem que sou poeta da Bahia...
Eu não sei porque isto!
Eu não como efô,
nunca vi o acarajé,
eu não sei o que é obi,
nem ebó nem vatapá.
Nunca vi bejerecum
nem uru nem orobó.
Não vendo cocada,
não vendo jiló.
Não sei quem é dona Loló.
Não compro na biboca
ierê maia atarê.
Não vivo labutando
com a baronesa de Passé.
Nunca fui a Itaparica,
não vou a festa de bagunça
onde tem faca e fuzuê.
Não pesco de puçá,
nunca fui pegar siri.
Se se come caruru
com farinha ou com acaçá
não sei.
Não moro em casa velha
que levantou o vice rei.
Não faço feitiço
não ando em candomblé.
Não acompanho procissão
de opa velha lá da Sé.
Não toco pandeiro,
não toco ganzá.
Não planto guiné
nem croto dois de julho.
Não rezo Santo Antônio
nem São Cosme São Damião.
Não sou Seabrista
nem farrista
ou civilista
nem Cruz Vermelha nem Fantoches.
Minha noiva não tem coche
que pertencesse a Dom João.
Nunca fiz um soneto
ao casamento da raposa.
Minha avó não é Moema
nem meu pai Tomé de Sousa.

Sosígenes 
Costa (1901.1968, Belmonte, Bahia)

Um comentário:

Tania regina Contreiras disse...


:-) Cabra muito bom! Um tratado poético sobre a Bahia...

Beijos,

A Chuva de Maria

A Chuva de Maria

Muadiê Maria

Muadiê Maria