21 janeiro, 2013


Uma vez minha mãe me disse que minha avó falava assim: confiança quebrada é como um vaso, a gente remenda mas aparece a colagem. Vó Mariazinha, vá me desculpando, mas quando eu cheguei da viagem, esqueci que havia enrolado a leiteira e o bule de café nas minhas roupas e quebrei uma tampa. Também é da minha essência juntar os cacos.


















Na primeira cidade eu vi com meus próprios olhos a dissolução. Os olhos ligados diretamente ao coração, olhos míopes apertam para ver, coração sensível aperta pra sentir. Suportar  a emoção da dissolução.
"Também é ser, deixar de ser assim" * Os maruins devoraram as minhas pernas e meu vestido branco ficou bem sujo de poeira, saudade, dissolução.













Na segunda cidade a flor da vida se mantém viçosa. 
"Boi. A tarde esmorece do que foi.
Do que será noturno é que se tece o boi." **
Depois da morte de meu pai, fui pela primeira vez ao Guaibim. Me acostumando, não a ausência de meu pai, mas a sua presença nas pessoas, coisas e lugares que, juntos, amamos.











A senhora falou que não quer lembrança. Não pode ser, lhe respondi, o que somos nós além de ânsia e memória? Trouxe as fotos. Das duas cidades. E em mim.



20 de janeiro, Maria fez 85 anos. Viva a Maria!











A visita foi rápida porque Maria estava apressada, tinha que levar "a sopa para a velhinha", sua cunhada que mora ao lado.


Fotos: Haroldo e Bia

* 4º Motivo da Rosa , Cecília Meireles
** Cantiga para Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos

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