11 novembro, 2012



Poesia forte de Rita Santana. Poesia bela, intrigante. Leio mais com os peitos do que com os olhos. Também uso as mãos para, com ela, cavar as minas e encontrar as palavras pedras preciosas.

MORTES COTIDIANAS

Chove na promessa remissa do feriado
E a migração não cessa.
Entristeci há dias
E o espelho, somente ele,
Revelou o embranquecer dos pelos,
O cansaço da voz,
E a desidratação da esperança.

Chove nos confins da minha alegria.
Virei moça triste sem vontade de sorrir.
Não tenho nada!
E nada resta do ser, senão, securas.
Artroses na atriz, reumatismos no feminino
E uma alegria de afetos.

Há anos não gozo, por puro desgosto!
Há anos não canto, por desencanto!
Há anos não vivo, só tenho banzo!
Por pura preguiça
De subir tantas ladeiras,
E descer tanto Morro,
Morro, morro, morro, morro ...

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PERCEPÇÃO DE QUERERES

Como querer querenças suas
Se em minhas mãos o meu querer se faz flama?
Chaga aberta na pele, pereba sem casca,
Adorno à espera de um carnaval dissoluto.

Labuto com a fêmea cedida
Que apenas deita e abre as pernas.
Sem pungir palavras de pensamento,
Sem pretensão de retrair a carne com maleitas,
Sem fúria, sem adstringentes pavores.

Como ceder ao teu querer profano de macho,
Se tenho sonho com ânforas
Cheias de perfume do lótus?
Como agachar o rabo molhado
Sobre o teu sexo pontiagudo,
E alado - de ovos exangues?

Como aquiescer, sem que me queime?

Rita Santana

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