10 outubro, 2012



SEGUINDO O OCASO

Tudo que é verde eu
sazono, ó videira. 
Se inconstante é a mulher,
bem, permaneço fiel

às marés, acedo
à estação e agora

é o tempo da ceifa.
Se o seu dom

é ser a firme
luz polar,

bem, eu persisto
no céu escuro

desapareço de dia
mas ainda brilho

no azul, ou acima,
de nuvens fofas.

Não existe gosto
mais doce, mais salgado

que alegrar-me em ser
o que, mulher,

e quem, eu mesma
sou, o vestígio

que resta quando o sol vem
e se espraia

num fio de encanto.
Se aturo agravos,

eu os relembro como
dotes, bens, um cesto

de pão que fere
os ombros, porém me entrosa

ao aroma. Posso
comer, seguindo.

Denise Levertov

Tradução de Jane Arduino Perticarati

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