08 fevereiro, 2010

Namibiano publicou em seu blog e eu divido com vocês. Beijo.


MITO OVIMBUNDU - O PRINCÍPIO DO MUNDO

Em dezembro do ano passado participei numa rifa promovida pela Martha lá no blogue dela http://mariamuadie.blogspot.com/ e acabei ganhando. Na terceira semana de janeiro recebi o livro pelo correio. Adorei a sua leitura. O livrinho escrito de uma forma muito viva e expressiva, conta várias lendas/mitos do povo Yorubá, um povo africano que vive na actual Nigéria, Benim, Togo, Ghana. A maior parte da população afro-brasileira do Estado da Bahia. no Brasil, é de origem yorubá. Para agradecer à Martha e à sua mãe, Iray Galrão, que é a autora do livro, vou contar, para elas e também para todos vocês, uma lenda da Mitologia Ovimbundu. O povo Ovimbundu fala o idioma Umbundu. A língua nacional angolana com o maior número de falantes e vivem no centro-sul de Angola.
Benguela, Bié e Huambo são províncias de língua Umbundu. Mas também se encontram nas províncias limitrofes de Huíla e Kwanza Sul.

Tela de Arlete Marques (Angola)


Lendas Africanas contadas por Iray Galrao

O PRINCÍPIO DO MUNDO


Suku (Deus), criou o homem e colocou-o num paraíso terreste, nas margens de um grande rio, o rio Kunene (ou Cunene). Suku, chamou a esse primeiro homem FÉTI, isto é, O Princípio.
Féti vivia sozinho na imensa floresta-paraíso que Deus lhe deu para viver. Caçava e comia dos frutos abundantes mas com o fluir dos tempos tornou-se um ser triste e rodeado por uma solidão atroz que nem os bichos da floresta e nem Ombwa, o cão, seu fiel amigo de caçadas conseguiam minimizar. Ele era o único ser racional na imensa floresta. Suku, espreitando do Céu, viu a tristeza inconsulável de Féti.
Um dia, quando Féti se preparava para sair em mais uma de suas solitárias caçadas, ouviu uma estranha e suave melodia. A melodia alertou todos os seus sentidos e imediatamente convergiu para o local.
Dirigiu-se para a margem do grande rio, pois era de lá que provinha a melodia que enfeitiçava os seus ouvidos. Quando lá chegou, Féti não pode esconder o seu espanto, o que se lhe deparou, naquele mágico momento, fez brotar em seu peito uma grande alegria e desenhar em seus lábios um iluminado sorriso. Saindo das águas mansas do Kunene, vinha um ser igual a ele e era tanta a beleza e formosura que esse ser irradiava que, logo alí, Féti se apaixonou, e dando-lhe a mão a levou para viver consigo. Féti, encontrou a primeira mulher, que Suku lhe ofereceu para amenizar a sua tristeza e solidão. Féti, a chamou de TCHÓIA, A Perfeição.
Os ventos sopraram, as chuvas cairam e, depois, vieram os cacimbos... o tempo fluiu e Suku abençoou a união de Féti e Tchóia, dando-lhes um filho – Galangue e, mais tarde, uma filha – Vihé.
Dos filhos de Féti – O Princípio e Tchóia – A Perfeição, descendem os povos do Huambu, Sambu, Galangue, Vihé...


*Nota: Na realidade, o povo Ovimbundu, encontra-se dividido nos seguintes sub-grupos (conheço dezoito):
Va-Mbalundu (Bailundos), Va-Vihé (Bienos), Va-Wambu (Huambos), Va- Ngalangi (Galangues), Va-Kimbulu (Quíbolos), Va-Ndulu (Andulos), Va-Kingolo (Quingolos), Va-Kalukembe (Caluquembes), Va-Sambu (Sambos), Va-Kakonda (Cacondas), Va-Kitatu (Quitatos), Va-Sele (Seles), Va-Mbuí (Amboins), Va-Hanya (Hanhas), Va-Nganda (Gandas), Va-Tchikuma (Chicumas), Va-Dombe (Dombes) e Va-Lumbu (Lumbos).


Máscara angolana

Há quem não considere os Va-Sele (Seles) e os Va-Mbuí (Amboins) Ovimbundu nem Ambundu por considerarem que eles se localizam numa zona de confluência de isoglosas, fronteira linguística entre Umbundu e Kimbundo, muitas vezes citados à parte mas eu não sou autoridade linguística para me pronunciar quanto a este assunto, apresento-vos o que sei de ouvir falar e de ouvir contar de outros mais-velhos.
Alguns dos nomes destes sub-grupos Ovimbundu, resultaram o nome de províncias (Huambo e Bié**) e localidades (Bailundo, Andulo, Huambo, Caconda, Ganda, Porto Amboim).



*Entre parêntisses são os nomes aportuguesados.


**Em português, Vihé resultou Bié porque os primeiros colonos portugueses eram do Norte de Portugal onde, a letra v vale b. Creio que se tentou restaurar o nome da província após a independência mas o uso já tinha tomado conta da boca de toda a gente.




Mito Ovimbundu, recontado por Namibiano Ferreira


Mapa da distribuição geográfica do idioma Umbundu

10 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Como é bom aprender. Bacana.

Unknown disse...

Lindo reconto! Me fez lembrar de Profª Ieda. Já li o livro de Dona Iray e adorei...Um beijo grande!

MARIAESCREVINHADORA disse...

Beleza de narrativa!
Pena que não ganhei o livro...

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Martha,
Obrigado pelo carinho,a Cultura angolana agradece de muxima/coracao na alma.
Um beijo para D. Iray, me visitou e me deixou feliz sua visita.
Kandanduééééééé

Unknown disse...

Gostei muito. Como faço para comprar o livro?

Mani disse...

A mulher-perfeição nascida da água. Isso me lembrou da Afrodite. beijos...

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Tem presente para vc em Cores & Palavras

Anônimo disse...

Supimpa! Namibiano nos brindou com uma narrativa do mito da criação de forma instrutiva e bela, totalmente desconhecida por nós, embora tão parecida com tantos outros mitos, inclusive alguns orientais, de Adão e Eva. Não é acaso o fato de que todos os povos tenham a mesma noção do princípio da Terra, embora alguns tenham melhor discernimento para compreender a metáfora embutida no mito.

Adriana Riess Karnal disse...

Gosto dessas culturas enriquecidas com lendas e mitos....belo texto.

vieira calado disse...

Já havia um tempinho que aqui não passava.

O seu blog continua interessante e variado.

Beijoca

A Chuva de Maria

A Chuva de Maria

Muadiê Maria

Muadiê Maria