Litza, minha avó, eu e meu avô Brício. Ubaíra, 1967.
A minha avó Mariazinha era uma cabocla bem magrinha. Com os óculos na cabeça, ela perguntava: onde estão meus óculos, você viu?
Ela tinha uma parreira no quintal e fazia saquinhos de pano para proteger as uvas dos passarinhos.
Seu nome de batismo era Maria Salomé. Gostava de medicar as pessoas, uma vez pingou remédio pra ouvido nos olhos de alguém. E deu certo.
Católica convicta, ficou doida atrás de seu Santo Antônio, uma miniatura marrom. Achou no quarto de Lito, perfilado entre os soldados em guerra no Forte Apache.
Em um dos quartos da grande casa, tinha um nicho lindo, com muitos santos e velas. Lá, rezava todas as noites, pedindo que nada faltasse aos filhos, mas que nunca ficassem ricos. Era tão amiga dos santos, que até hoje nem um bisneto conseguiu enriquecer...
Brigou com Zé Fernando, meu primo, porque chupava um picolé em dia de chuva, mas emendou na mesma frase: "Com um frio desse, menino! Me dá um pedaço ...."
A minha vó trabalhava no correio da cidade de Ubaíra. Eu ficava fascinada com tanta correspondência. Não tenho palavras pra descrever essa emoção de estar no correio onde minha avó trabalhava, na intimidade de quem toca todas as cartas.
A minha avó Mariazinha queria que eu fosse uma boa menina. Ainda sofro até hoje por não saber ser assim tão boazinha. O meu pai sempre falava: dona Mariazinha era uma santa!
Católica convicta, ficou doida atrás de seu Santo Antônio, uma miniatura marrom. Achou no quarto de Lito, perfilado entre os soldados em guerra no Forte Apache.
Em um dos quartos da grande casa, tinha um nicho lindo, com muitos santos e velas. Lá, rezava todas as noites, pedindo que nada faltasse aos filhos, mas que nunca ficassem ricos. Era tão amiga dos santos, que até hoje nem um bisneto conseguiu enriquecer...
Brigou com Zé Fernando, meu primo, porque chupava um picolé em dia de chuva, mas emendou na mesma frase: "Com um frio desse, menino! Me dá um pedaço ...."
A minha vó trabalhava no correio da cidade de Ubaíra. Eu ficava fascinada com tanta correspondência. Não tenho palavras pra descrever essa emoção de estar no correio onde minha avó trabalhava, na intimidade de quem toca todas as cartas.
A minha avó Mariazinha queria que eu fosse uma boa menina. Ainda sofro até hoje por não saber ser assim tão boazinha. O meu pai sempre falava: dona Mariazinha era uma santa!
Eu enjoada, vomitando a alma, deitada no colo da minha avó. A minha avó fazendo o sinal da cruz onde afligia e dizendo: Nossa Senhora passou por aqui com seu cavalinho comendo capim.
M.
M.
11 comentários:
figura,essa sua avó; faz um belo par de jarro com meu avô chimbo!
E com a vó de Soraya, Ludu, também santeira e zelosa.
Linda, linda, linda a vó Mariazinha. Conte sempre histórias da avó.
Gostei da sua vó! Olhe, a menininha passou aqui pra lhe deixar um beijo!
Conseguiremos ser avós assim, a ponto de fazer parte das reminiscências de nossos netos como seres folclóricos dignos de belos textos como o teu?
Abraços
Pô! e o retrato de retrato tudo a ver com o retrato de texto. Valeu! O vô Brício, show de elegância.
Lindo! Emocionante! Chorei com seu texto.
Vocé grande!
bjs
Enjolras
MUITO LINDO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ACREDITO QUE É ASSIM QUE DÁ PRA RESPONDER A PERGUNTA QUE DEIXOU UMA CERTA BIA DE 5 OU 6 ANOS DE CABEÇA TONTA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
FOI DE LÁ DE VÓ MARIAZINHA QUE ELA VEIO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
UM CAMINHO CHEIO DE PERSONAGENS , DE CENÁRIOS , DE SANTOS , DE AMORES E PICOLÉS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Lapepe
Marthinha, Marthinha,
lindo esse texto.
Vc precisa fazer um apanhado dessas histórias e publicar, menina.
bjo bem grande
P.s. outra coincidência: meu pai tbem foi dos correios ( não do espaço físico correios, mas da repartição EBCT). mais bjos,
Lindo demais, Marthinha!
Quem dera fosse uma vozinha tão linda e sábia quanto a sua...
Marta, se escrevesse um post primeiro, inaugural, seria pra minha vó. Como a vi na sua, nos santos, nas rezas, promessas e nicho, no afeto e no zelo. O amor da minha vida, tal qual seu pai na sua. Privilégio extra, um avô sábio,funcionário antigo dos Correios, onde ia trabalhar como ajudante pra ganhar banana real. As cartas, uma alegria à parte, mas meu encanto mesmo era atender às pessoas. Beijos e obrigada pelo texto. Soraya
Postar um comentário