06 janeiro, 2009


Não suporto lagartixa.
Não aguento ter sobre ou contra mim uma lagartixa.

Episódio 1:
Minha mãe me conta que uma amiga dela estava deitada
lendo, quando uma lagartixa despenca do teto de telha
vã da casa de vô Brício, bem aqui, em seu colo. Sabem
como Mâmilis é uma boa contadora de histórias,
enfatiza o desespero no tom da voz, a moça gritando e
rasgando a roupa de pavor.
Fiquei impressionada com a lagartixa grudada no peito.


Episódio 2:
Minha madrinha, a linda tia Carminha, mora em uma
chácara maravilhosa, e cria um teiú que mora embaixo
da geladeira. Eu sinto repulsa, medo, mas fico
hipnotizada vendo ele comer ovos inteiros.

Episódio 3:
Nessa remota era, guardávamos as garrafas de
refrigerantes em engradados para trocar na próxima
compra. Eu, criança, no apartamento, brinco de fazer
faxina, quando levanto um garrafa de coca-cola...
argh!!! uma lagartixa esmagada.
Levei dias sem conseguir comer.

Episódio 4:
Marconi e Murilo pegam ovos de lagartixa, esmagam,
barbarizam e me mostram como são por dentro.
Viver é mesmo muito difícil.

Episódio 5:
Márcia vai dormir lá em casa e estávamos arrumando
as camas, quando arrasto a cama, uma lagartixa gruda
na batata da minha perna.... argh!!!!
Levei horas lavando o lugar.

Episódio 6:
Estou estudando, lendo, deitada na cama de barriga
para baixo, quando Maurício me dá de presente um
papel dobrado com uma lagartixa morta dentro.....
ô meu Deus, me proteja.
Nunca me recuperei desse trauma.


Episódio 7:
Acordo e vejo uma lagartixa bebendo água num prato
que estava no chão de meu quarto.Uma cena
apavorante, não sei se delírio ou verdade...o que
estaria fazendo um prato com água no chão do meu
quarto?

Episódio 8:
Meu primeiro namorado quebra uma cama tentando
matar uma lagartixa pra mim. Nessa época, quando
eu via uma lagartixa, tinha que matá-la, ou melhor,
alguém tinha que matar pra mim.
Mas, já passou esa fase, estou mais civilizada.

Episódio 9:
Vou para Jericoacoara e me hospedo na casa de
uma família de pescador. Passo a primeira noite
em claro, numa rede, numa terra estranha onde
as lagartixas não mantêm distância dos humanos.

Episódio 10:

Na casa de d. Wanda, um lugar muito lindo onde Bia
nasceu, aceitei a presença das lagartixas no mundo.
Foi um processo difícil, lembro de mim grávida e
enjoada, levanto para ir à cozinha e como sempre,
sou torturada pela imagem da lagartixa que mora
embaixo da geladeira (de novo!?!) e sai durante a
tarde para caçar...argh!!!!

Episódio 11:
No último apartamento que moramos, puxo uma cesta
de biscoito de uma prateleira, e...argh!!! uma
lagartixa cai em meu olho. Meses para esquecer a
pergunta: por que acontece comigo?

Episódio 12:
Vou ao banheiro na casa de Jumara e quando fecho
a porta, uma lagartixa cai em minhas costas...
aaaarrrrrrghh!!!! Como assim???

Episódio 13:
Calço o tênis e vou trabalhar. Quando desço do carro,
sinto uma coisa molinha, estranha....
aaaarrrrggggghhhhhhhhhh!!!!!!! Tinha uma lagartixa
dentro do tênis e eu esmaguei ela.....arrghh!!!

Episódio 14:
Espero sinceramente que não exista o 14, que esse
fenômeno estranhíssimo de atrair lagartixa desapareça.

(em homenagem a Aeronauta
e a todos os amigos que
conversaram em seu post Aberto pra balanço)

13 comentários:

Anônimo disse...

Oh! Marthinha, eu amo lagartixas. No Aragão, fazenda do meu pai, as bichinhas parecem jacarés. Lindas, gordas. Mas confesso que quando criança, eu e Toti, meu primo, capturamos uma, prendemos a danada com pregos pequenos e fizemos uma cirurgia, só pra ver o que tinha dentro. Até hoje me arrependo, a coitada deve ter sofrido bastante. Fizemos pra ela um enterro decente, digno de qualquer voluntária que se entrega às ciências. Lembro que achei um tubo de xilocaína, que um empregado de lá usava nos dentes. Foi todo na barriguinha branca, antes do estilete enferrujado começar a tortura. De olhos esbogalhados, ela tentava, em vão, avisar que era mãe, talvez, que tinha família, que tinha que fazer mercado, qualquer coisa assim. Hoje , eu e dr. Toti, delegado de Alagoinhas, lembramos disso e rimos muito.

Mas Maurício é "do mau", né????

Beijos,

Lu.

aeronauta disse...

Que boa sessão terapêutica, Marta. E que relação interessante essa com as lagartixas. (Nem deixe Freud e Jung saberem, porque senão vai ser tanto trauma de infância, tanta simbologia velada...)
Saiba que sua narrativa está muito boa, interessantíssima!

Giselly Lima disse...

Martha, esse post me trouxe lembranças terríveis e engraçadas ao mesmo tempo. Sei bem do que você está falando, apesar de que a minha repulsa por lagartixa ter sido provocadas por apenas dois episódios que me fizeram mudar de idéia, já que convivia pacificamente com as bichinhas nas casas em que morei no Maranhão - são conhecidas lá como osgas.
Nunca tive medo delas nessa época, na verdade até rolava um mito lá em casa de que elas paralizavam se as olhássemos fixamente. Acho que isso nos dava uma certo poder.
Tudo mudou aqui em Salvador. Uma vez, ao chegarmos em casa pra almoçar, Isadora, então com uns quatro anos, trouxe dentro de um porta-jóia, feliz da vida, uma surpresa pra nós. Ela tirou o negócio, colocou na mãozinha, a fechou fazendo segredo e depois nos mostrou com o maior orgulho o bichinho morto. Quase esfolei a mão dela de tanto lavar, passar álcool...
Tempos depois, uma lagartixa 'pulou' nos meus longos cabelos de outrora e se emaranhou por entre os fios. Imaginou o desespero? Aquele negócio se debatendo desesperado na minha cabeça tentando se livrar tembém? Isa já era maiorzinha e me ajudou a tirar o bicho na maior calma, apesar dos meus gritos e pulos.
Possíveis morais da história: 1. Lagartixas baianas são mais soltinhas mesmo. 2. As lagartixas tem mais medo de Isadora do que eu delas...rsrs
Belo tema!
Bj.

Anônimo disse...

Martha, várias coisas sobre esse post engraçadíssimo.
1) você não pode vir aqui em casa! Segundo minha caçula, há um criadouro no telhado da garagem. Ela tem ojeriza também, e sai do carro já olhando pra cima. O pior é que, como você, tem sempre uma no caminho dela. É sina, carma, sei lá. Aero já viu simbologia velada nisso.
2)A sua vantagem é que você é mulher. E eu que também tenho medo? E quando mato com uma vassoura e o rabo fica balançando, quem pode com essa cena, me diz?
3) faltou ilustração. Haroldo não tem nenhuma foto de lagartixa? rs
Bj

Clóvis Campêlo disse...

Quando menino, nunca gostei de cortar os rabos das lagartixas, brincadeira predileta da criançada.
Também nunca gostei de matar os sapos cururus com esferas de metal quentes. As bichas ficam vermelhas e eles as engolem.
Fui uma criança babaca, já contaminado pelo sentimento de respeito às coisas diversas da vida, pelo medo de pecar matando os bichos que São Francisco de Assis protegia.
Por tras do medo sempre se esconde algo bem mais aterrador.
Sejam lagartixas ou o fogo dos infernos.

Fernanda Leturiondo disse...

Pois é Martha, e eu moro exatamente em cima do mangue, ou do que outrora foi mangue. Mas já gosto da cidade, da calma daqui. Cidade de ciclovias, reparou? Aqui sou ciclista entre outras novidades.

Adorei ler das eca!lagartixas!
bjo

MARIAESCREVINHADORA disse...

Adorei o texto, Marthinha!
Até entendo o seu trauma com as pobres e indefesas lagartixas.
Até parece que tem você nasceu com um ímã-lagartixa, menina!
Desative esse troço, já! rsrsrs

PS: Eu amo as lagartixas. Intitulei um de meus livros de Lagartixa Alada, comparando-as conosco (?), nos tempos de antanho.
As mulheres servis, que se arrastavam atrás de seus homens, orbitavam em torno deles, eram ou não eram umas lagartixas, sempre a abanar a cabeça de modo afirmativo?

Beijos,

Conceição

Nilson disse...

As lagartixas estão em sua vida, sem dúvida. Proponho uma terapia de choque: que tal adiantar o 14, pegar uma com a mão ficar bem e baianamente "uma hora de relógio" conversando com ela? De duas, uma: ou ela some de vez, ou te convence de que não tem jeito...

Unknown disse...

E sapo? pior, muito bior. Perereca então... em banheiro de fazenda. Se pular na xereca?

sandro so disse...

Já pisei em uma lagartixa. Quanto ao episódio 13, já aconteceu comigo uma barata.
Beijos, Martha.

Marcus Gusmão disse...

Comentei este seu post com Soraya, ela riu muito e lembrou que você teve sorte de não ter um primo como Flavinho, que comprava imitações de borracha e colocava na geladeira pra depois de bem geladinhas serem arremessadas em cima das primas quando elas estavam distraídas.

Quézia disse...

Marthinha, também tenho um "carma" como o seu, só que a protagonista das minhas histórias de horror é a barata. Argh!
Vou copiar vc e fazer tb a minha coletânea...

Quézia disse...

Ah! E esse homens todos com nomes iniciados em "M" de malvados?!

A Chuva de Maria

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Muadiê Maria

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