18 setembro, 2008


O rio passava atrás da casa da minha prima Cristina,
do lado oposto à casa de meu avô.
Não podíamos tomar banho porque no rio tinha
Sistosomas e Sanguessugas.
Era um lugar úmido, e eu gostava de ver o rio e a
correnteza.
A casa por onde passava o rio só tinha uma janela.
Dois quartos, um quintal e um basculhante de madeira
sempre cheio de Lagartixas, seres abomináveis.
A frente da casa era a Livraria. Que eu amava.
Nessa Livraria não se vendia livros mas canetas,
adesivos e papéis.
O vizinho, seu Ercínio, criava a Araponga.
Quem ouve o canto da Araponga jamais esquece.
Do outro lado da rua, numa enchente, tio Luiz sentou-se
na janela para pescar.
Apanhou de meu avô Brício, que considerou acinte
tamanha descompustura.
Será que nunca nadei nesse rio? Tenho lembrança
de mergulhos, de ir entrando devagarinho com medo
das Sanguessugas.
Mas não sei se me molhei nas águas molhadas do rio
ou se o mergulho foi nas águas do desvario.


Inspirado em
Aeronauta
e seu Tributo ao rio.


7 comentários:

aeronauta disse...

Puxa, Marta, que coisa linda! Fico feliz por meu tímido Tributo ao rio ter lhe ajudado a escrever algo tão bonito e tão comovente. Adorei. E obrigada.

Anônimo disse...

Martha, sempre me surpreendo com a beleza do que você escreve.Poucas pessoas conseguem transformar coisas tão simples de maneira tão bonita.Senti saudades de Ubaira,de papai da minha infância. Obrigada por ter me proporcionado isto
Beijos

Aline disse...

Martha, que bonito! Lembrei de uma sanga que corria no fundo da casa dos parentes do meu pai, na colônia, lá no interior de São Pedro do Sul!

Beijos!

MARIAESCREVINHADORA disse...

Adorei, Martha!
As lembranças são o arsenal de nossa resistência para suportar a feia realidade.
O rio também faz parte de minha infância, quando era feliz e não sabia.
Beijos,

Conceição

José Calvino disse...

Querida Marthinha,
Você me fez recordar, e recordar é viver. Quando adolescente, já tomei muito banho no rio Beberibe (Passarinho) que passa ao norte da cidade do Recife, misturando-se às águas do rio Capibaribe...
Gostei do texto.
Parabéns, poetamiga!
Bom final de semana.
Beijos do,
Calvino
Recife

Verônica Aroucha disse...

Parece um filme. Gostaria de ter tomado banho naquele rio.
Tudo tão bonito Martha, tão fascinante. Como será o grito de uma Araponga?
Beijos e muita poesia na sua vida.
Verônica

Sílvia Câmara disse...

Ah Marthinha, essas nossas memórias-devaneio...
Gostei muito.
Estou de volta do Caminho de Santiago. Trago na bagagem da cabeça muitas lembranças, preciso de tempo para rememorar, reescrever o que os olhos viram e o coração sentiu.
P.S. Gratíssima pelo comentário emocionado em Tantas Canções de Iandaia.
Quando nos permitirmos um encontro, te falarei dela.
um beijo, querida e um abraço peregrino.

A Chuva de Maria

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Muadiê Maria

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