25 dezembro, 2007

Irisz Agocs













Uma amiga me contou que para apaziguar seu medo de morrer seu pai lhe dizia: Calma, menina, gente não é passarinho.

A falta de fome ontem, o sol abrasa dor hoje, os compromissos da manhã e o medo me deixaram louca de enxaqueca agora à tarde.

Essa mania de ver demais apesar dos seis graus de miopia. Deus me deu de alívio seis graus, e eu insisto em apertar os olhos e querer nitidez. Haroldo sempre me diz que sou muito teimosa. Ontem, às oito da matina, vejo no posto de gasolina um casal que havia acabado de ser libertado de um sequestro-relâmpago. Ontem, no final da manhã, vejo (de longe) que um morador de rua matou com uma pedrada na cabeça um outro homem que dormia no Largo da Mariquita. Ali, pertinho de mim, do mar, do acarajé da Cira e de Caramuru.

Uma fraqueza me domina. Recolho minhas asas apesar do tempo bom.

Brisa de maravilhas sopram em meu dia:
De Bia, vejo a palavra Mãe;
de minha mãe, vejo a Sete Portas, dois pombos brancos desamarrados e soltos;
de Anaís, eu vejo a palavra Amor
e de Amanda, vejo os olhos pretinhos ávidos de mundo.

"Quero chorar, não tenho lágrimas", os tempos exigem fortaleza.Os papéis se inverteram ainda a pouco, eu sinto medo. Ainda ontem eu era uma menina franzina na praia da Pituba de mãos dadas com meu pai enfrentando ondas altíssimas. Ficávamos atentos, de frente para o mar, perscrutando os desígnos das ondas: as que deveriam ser puladas - delícias, vôos marinhos; as que deveriam ser mergulhadas - forte emoção, o maremoto passando por cima da minha cabeça.

Hoje, essa menina franzina vive disfarçada nessa mulher que vos fala, e amanhã mesmo, assim disfarçada, vai segurar a mão de seu pai, um menino disfarçado em senhor, para enfrentar um mar revolto.

Forjando uma força que nem tem. Que os passarinhos do céu digam: Amém.

Martha

9 comentários:

Bela disse...

Amém nóis tudo, Martha querida!
Lindo texto! um poema em prosa!

Lindo Natal pra vc!

Dia 31 chego a SSA!

Graças a Deus!

beijos beijos

Eduardo disse...

Essa intensidade que fascina... O deslizar das palavras...

Fascinante

Eduardus Poeta
http://reticenciaspoeticas.blogspot.com

Oliver Pickwick disse...

Marta, querida conterrânea baiana, enfim a encontro em seu lugar secreto, distante dos Versos de Falópio.
De Ubaíra para o mundo, muda o site, mas o seu talento continua o mesmo.
Gostei deste texto, da sua intensidade, e até das pequenas inclusões do concretismo.
A lenda está correta, baiano não nasce, estréia.
Um beijo, e tenha um feliz natal!

Anônimo disse...

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Brindemos a um ano de esperança e felicidade!

José Calvino disse...

Continue forte, Marthinha!
Até porque tudo seu é amor, você é uma poeta, cuja veia poética dá prazer aos sentidos e eleva o nosso espírito...
Beleza, baiana!
Amem (sem o acento agudo)!
Beijos do,
Calvino
Recife

Anônimo disse...

É isso, Martha da Bahia! Eu só não tenho a veia poética e não sabia como dizer que: disfarçada nessa mulher que vos fala [...] amanhã mesmo, assim disfarçada, vai segurar a mão de sua mãe, uma menina disfarçada em senhora, para enfrentar um mar revolto... Amém!

Fernanda Leturiondo disse...

Que lindo, Martha! Lindo, lindo!
E li hoje, véspera de ficar mais velha, quando mais me sinto menina franzina.

Sílvia Câmara disse...

Já te falei outras vezes que acho
lindo esse texto.
Onde tem passarim, pai e mãe, não
tem erro: mareja.
bjo grande.
Gostei da sua passagem pelo Brisa.

Verônica Aroucha disse...

Que bonito Martinha!
Tão forte que senti a lembrança viva de papai, segurando minhas mãos, sorrindo com a minha mania de medo do mar.
bjs e um ano de muitas alegrias.
Verônica - ausente ainda. Falta-me!

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