03 agosto, 2007

Da série: Confidências


Sou do tempo em que a luz elétrica era desligada às dez horas em Ubaíra. Eu me perdia no escuro admirando as curvas de vidro e chama do lampião. O cheiro do querosene instigava as minhas narinas.

Sou do tempo em que não havia chuveiro elétrico em Ubaíra. Numa grande bacia de alumínio, eu me perdia na espuma de água morna admirando as paredes frias. Lagartixas e mariposas completavam o meu espanto.

Sou do tempo em que meu avô Brício não permitia usar o chuveiro elétrico quando a televisão estava ligada. Minha prima Soraia tomava banho escondido durante o Jornal Nacional. Eu me perdia na coragem dela. E tornava a me perder no espelho olhando seu rosto ser maquiado, admirando o mistério da feminilidade.

Martha

22 comentários:

MARIAESCREVINHADORA disse...

Tão bom reviver! É o mesmo que viver novamente.
Lindo texto, Marthinha.
Beijo

Conceição

Anônimo disse...

MUITO LINDO!
Tudo isso me lembra Mutá, quando ainda tinha olhos, narinas e ouvidos de criança!
Era assim também , uma magia que pairava no ar!!!
LINDO e MÁGICO , uma sinfônia única de cheiros , imagens e sons , personagens mitológicos. Mistérios!
Mas , não sei quando , meus olhos, narinas e ouvidos envelheceram!
Beijos.

Laura

Anônimo disse...

LINDOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

Cê tá mandando bem, hein!
Aliás, sempre mandou bem. Quero te ver nas boas livrarias.
Beijos. Chego dia 14, viu?
Alê

Anônimo disse...

Também sou de lugar parecido, Porto Nacional (TO). Seu tempo é nosso.
Com afeto
Célio Pedreira

Muadiê Maria disse...

E nosso tempo é ouro.
Martha

Anônimo disse...

Marta, não resisti e venho contar meu tempo no seu.


Sou do tempo em que o motor da luz elétrica era desligada às dez horas em Porto Nacional.
Eu me perdia nas sombras da candeia que meu pai deixava acesa na mesa da varanda para continuar a noite.
Sou do tempo em que não havia chuveiro elétrico em Porto Nacional.
Esquentavam água para minha mãe se lavar depois dos partos. Eu me perdia ao contar na ordem o nome dos meus doze irmãos.
Sou de um tempo sem televisão.
Minha irmã Ruth esteve em Goiânia e contava que além dos gibis os desenhos animados não eram tão engraçados na televisão como nos nossos olhos.

Anônimo disse...

saudades docê

Anônimo disse...

Bacana, Martha.

Tivemos um sítio( +ou- há 15 anos) perto de Lauro de Freitas, que não havia luz elétrica.
Levávamos "fifó". Lembro que camila ficava dançando flamenco, jotas, passo doble, fazendo a sombra na parede de espelho.

Era lindo. Mas fazia um friiiiiiioooooooooo!!!
Chuveiro elétrico é bom!

bjo.
o texto tá muito bom.
Silvia

José Calvino disse...

Lindo,lindo,Marthinha!Segue algumas Reminiscências:O bairro de Casa amarela (Recife)era tranqüilo, o trem da Great Western passava na então estrada de ferro norte (hoje Av.Norte)com o apito saudoso da "Maria Fumaça"que soltava fumaça em desenho, através de sua chaminé,deixando pela linha afora um cheiro saudoso do carvão-de-pedra... Beijos,
Calvino do Recife

Muadiê Maria disse...

Calvino, pra você:

Explicação de poesia sem ninguém pedir


Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.

Adélia Prado

Anônimo disse...

Lindo, tb sou desse tempo.

Martha a propósito vc já pensou em se inscrever para o premio Brakem de poesia

Fátima

RAINHA MAB disse...

Ô, bicha retada!!! Martinha, tú é retada!!!

Fabi´s disse...

que leitura prazerosa.... que site maravilhoso.... vou voltar sempre!

Anônimo disse...

Lindo!

De uma memória afetiva enorme...

Me senti lá, te vendo...

~ Marina ~ disse...

Ah!Martha!Também sou desse tempo,numa cidadezinha do interior.Quanta saudade esse texto me despertou,pois vivi e revivi tudo isso.
Bjs,

Gerlane

Kátia Borges disse...

Esse texto dá vontade de falar de um tempo que denuncia a idade, mas que ainda queima dentro do peito. Eu recordo com saudade uma época sem celular, que não fazia a menor falta. Muito bom. KB

. fina flor . disse...

Você é do tempo em que a poesia era vista a olhos nus, flor....

beijos e boa semana,

MM

Anônimo disse...

Passei por aqui e te deixei um beijo!

Anônimo disse...

Martha querida, também sou desse tempo e o que antecede a este:
O tempo que escuro era breu e brincar com bonecas de pano depois das 7h dava pesadelo.
Adoro seu blog.
Bjs
Verônica

Ramon de Alencar disse...

...
-Do tempo onde ainda se escrevia cartas e o carteiro trazia a alegria em pequenos envelopes marrons que chegava pouco tempo antes do padeiro aparecer com seu carrinho e gritar: PÃÃÃOOO. Enquanto eu corria atrás daqueles de coco.

Anônimo disse...

No meu tempo, em Pesqueira/PE a luz elétrica era desligada às dez. Antes, tocava uma sirene para nos avisar e avisar aos que ainda se aventuravam nas ruas para voltarem para casa. Hora de acender o candeeiro e brincar de fazer medo aos irmãos menores...
Como Célio Pedreira, também esquentava água para minha mãe se lavar após o parto, que, por sua vez esquentava água para o banho dos nove filhos. Eu me perdia ao contar na ordem meus nove irmãos (fomos também 12).
Aproveitava todos os minutos até a luz apagar para ouvir o velho rádio Philips de meu pai sintonizado na BBC, ou em algum emissora local onde tocasse bossa nova ou jazz, preferência lá dele que me persegue deliciosamente até hoje.
Aguardava ansiosa o carteiro que trazia as cartas do meu amor adolescente que estudava medicina em Recife...
Agora - que é que eu faço nessa teia de vidro???

A Chuva de Maria

A Chuva de Maria

Muadiê Maria

Muadiê Maria