28 novembro, 2006

A Legítima Desestória do Incansável Afrígio Aroeira

A felicidade é estradeira
para então necessário é dissolver costuras
revirar as bainhas do silêncio e
indagar das libélulas o caminho do oráculo
onde se vendem promessas
e mistérios de semana santa
Também é preciso inferir o medo
mensurar as forças do escuro
desmontar o muro, pessoar as coisas
e represar o mito
debulhando as pegadas no cascalho
É que largaram pelos quintos
as madrugadas e cansaram
de contar estios
Afrígio, duplicativo
após muito entrevistar
formigas parideiras e perseguir calangos
pensou tê-la achado
num curral de vidro. Não era
Cansou de serrar cornos
viandou pelos chãos
até pocar os calos num quintal de luzes
onde a desinfância tinha valor marcado
na tatuagem das coxas
pela fissão da cachaça:
entremeou, desgastou os olhos
chorando branco. E andou. Não era
Aroeira esmagou estrume
e deixou asfalto fubento
xingou o tempo;
de raiva, descarregou o cravinote
na primeira nuvem que voava baixo
e capinou o buço a punhal
transbordou o embornal, de cheia
ribanceirou, ribanceirou
e se esbarrou na capital
foi dar com os quartos no tacho verde
de salmoura e areia;
desdentou de rir vendo as moças nuas
lambendo o sol
Intentou desentristecer a cidade
de tanta luz amarela
beirou as sarjetas e desancou os postes
virou bicho quando lhe roubaram
as estrelas
(não foi, era só um furo n’algibeira)
Desgostou dos fios. Era tudo enorme
sem cumieira. Rebuscou os vãos
com olhos de vermelho
fez-se escravo dos ponteiros. Não era
Afrígio pariu quimeras e teve
crias para abençoar
mas carecia de esmolas
e de encontrar sentenças
Homequá, disgrama
este é o meio da desestória, não acaba
Vigiliei Afrígio tresontonte
escondendo aurora
pegando picula com o cheiro da chuva molhada
criando cisco na lapela
Nera longe, não, pilhéria. Cansou
remendou atalhos, desconversou da sorte e
voltou pra brincadeira
artesão de latas e esferas
A felicidade é estrada...
enganaram Aroeira.

Goulart Gomes

2 comentários:

Fred Neumann disse...

Cara Martha, isso é pra ser acompanhado de uma bela refeição e de boas companhias, pra poder comentar.
E a cada vez lido, tenho certeza de que esta legítima desestória se desintegrará e se transformará em algo original mais uma vez.

Obrigado por nos presentar com Goulart Gomes, não o conhecia, confesso, mas já comecei a vasculhar por mais obras dele nos sites de busca.

Beijoéticos,

Fred

Gláucia disse...

Martha,
Vim agradecer o lindo poema-comentário que deixaste lá no blog. Muito obrigada e um beijão pra ti.

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