10 outubro, 2006

João Cabral de Melo Neto

9 de outubro foi aniversário da morte de nosso poeta.
Até morte faz aniversário, minha flor, pra gente não tombar no esquecimento.


Os Três Mal Amados
(fragmentos)


Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
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O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
...............................................
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
..............................................
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto

"Os Três Mal Amados "; In: Obra Completa.
Volume único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p.57


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3 comentários:

Anônimo disse...

O seu blog está cada vez mais fascinante... os novos poemas e as novas imagens estão demais, tocam, emocionam e prendem visualmente. Bom casamento: letras, linhas, poemas e imagens.
Parabéns!

Carla

Anônimo disse...

Martha querida,
Cada vez que venho aqui, acho mais bonito, mais inteligente, mais tudo!
Grande abraço,

Conceiçao.

Anônimo disse...

Martha, seja sua escrita seu grito; seus versos, seu canto, onde embriaga e abriga.
Obrigada por fazer parte do nosso grupo de estima poética.
Muita luz e felicidades!
Verônica

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