11 setembro, 2006

Brício

No século passado, 1978, eu e meu avô abraçados em sua casa, Ubaíra, remoto lugar.

Mas meu Deus, o que será mesmo remoto, se às três da tarde sinto suas mãos em concha depositando sapotis maduros em minhas mãos?

Ainda hoje senti o cheiro de manga espada da sala de jantar, e ao meio dia ouvi no rádio o hino do Senhor do Bonfim.

Refiz a cena: nós chegando de viagem e você, altivo e amoroso, nos esperando em pé na porta para a bênção.

Vô, me atrapalho tanto ... como é que se vive no tempo? Já pari, já amamentei e sou essa menininha da foto ansiosa por ver os seios crescerem...
Hoje mesmo li em voz alta o jornal pra você ouvir, como fazíamos, lembra?


Estou aqui e choro.
Porque é noite
porque estou sozinha
porque sou cigarra e canto seco
porque sou fruto pêco
porque peco
e perco.

Só a réstia daqueles dias bendizendo:
- Bença, vô
e beijávamos nossas almas
- Deus te abençoe.
Esses dias luzindo confiança e frutas.


Martha Galrão

2 comentários:

Anônimo disse...

"Olha, Maria
Eu bem te queria
Fazer uma presa
Da minha poesia
Mas hoje, Maria
Pra minha surpresa
Pra minha tristeza
Precisas partir

Parte, Maria
Que estás tão bonita
Que estás tão aflita
Pra me abandonar
Sinto, Maria
Que estás de visita
Teu corpo se agita
Querendo dançar

Parte, Maria
Que estás toda nua
Que a lua te chama
Que estás tão mulher
Arde, Maria
Na chama da lua
Maria cigana
Maria maré

Parte cantando
Maria fugindo
Contra a ventania
Brincando, dormindo
Num colo de serra
Num campo vazio
Num leito de rio
Nos braços do mar

Vai, alegria
Que a vida, Maria
Não passa de um dia
Não vou te prender
Corre, Maria
Que a vida não espera
É uma primavera
Não podes perder

Anda, Maria
Pois eu só teria
A minha agonia
Pra te oferecer"

Só para não esqucer...

Anônimo disse...

Martha, que surpresa maravilhosa encontrar em minha prima uma mulher sensível, inteligente, madura.É que não falamos há tanto tempo que ler os seus textos me deixou muito emocionada e ao mesmo tempo triste pela convivência perdida. Aquela foto com meu avô me fêz viajar no tempo, e me lembrei de quando chegava a Ubaíra e ele me levava ao quarto onde guardava os jornais antigos, com que orgulho ele nos mostrava todas as ¨gazetas¨, e isto não era para todos os netos não, era só para aqueles nos quais ele, com a sua perspicácia, percebia um real interêsse.Desculpe a demora em te contactar,é que estes últimos dias foram um pouco tumultuados.Visitarei o seu blog sempre e talvez assim me sentirei mais próxima de você e da tia Lai pois gosto muito dela.
Parabéns pelo seu trabalho
bjs
Litza

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